quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ano novo

A passagem.

"Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe pra gente é no meio da travessia"


_Dentre pequenos pesares e prazeres foram se dias vividos

_Dias vividos, as vezes sentidos mais, as vezes menos

_Vermelho, branco, cinza, azul, verde...dia arco-íris, teve desses todos.


... ...

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...

Drummond

... ...

Primeiro dia.

Fechando-se com uma chuva de lavar a poeira do ano passado.

acreditar

que tenha alguém pra dividir uma chuva dessas algum dia

ultimamente tem sido difícil dividir uma chuva

Novos Desejos novos.

menos vícios, mais virtudes, noves fora zero.

domingo, 12 de outubro de 2008

Outros olhos



No fundo de cada cabeça devem existir outros olhos, uns olhos que enxergam para dentro, e provavelmente são eles que vêem as imaginações, as reminiscências, os sonhos, as idéias, as doidices que a gente pensa.

Enquanto os olhos que olham para fora se limitam a contemplar o que está na frente deles, esses tais olhos de dentro ora vêem de o que querem, ora o que a gente quer ver.

Às vezes eles são obedientes. Outras são muito teimosos. Quase sempre são criativos. De vez em quando são tão sensíveis. São imprevisíveis os olhos de dentro.

Em caso de necessidade, são capazes de reproduzir fielmente as imagens que os de fora já viram, o que é chamado vulgarmente de lembrança, fenômeno fácil de ser compreendido.

È feito foto, filme, computador. Deve estar tudo registrado em alguma parte da memória.

O mais difícil de entender é como eles conseguem inventar coisas que os olhos de fora nunca viram:

Acontecimentos que não aconteceram.

Momentos que jamais passaram.

Situações completamente estapafúrdias.

Condições imaginárias.

Suposições.

Tragédias.

Finais felizes.

Sinais.

Hipóteses.

Subterfúgios.

Absurdos.

Desejos.



Aquilo que não existe, ou que não é visível, ou que ainda não foi descoberto, o que já foi embora, tudo o que está no brejo, o que está sempre no escuro, soterrado, escondido, após, por trás, o microscópico, a conjectura, o que foi arrancado, o que não foi aberto.

Brincar com os olhos de dentro pode ser engraçado.

É só imaginar o que quiser, por mais maluco que seja, e podem acontecer laranjas azuis --- sóis sem luz --- duas luas no céu --- uma tartaruga veloz --- uma fuga, um refúgio, um lugar --- outro valor para "PI" --- paz aqui no planeta --- cometas, estrelas cadentes, beijos noturnos, mil e uma viagens --- paisagens à vontade do freguês --- um Saturno sem anéis, uma ilha encantada, uma cidade tranqüila, uma casinha na floresta --- festas de chuva no sertão --- um patrão mão-aberta (ou qualquer outra pessoa inventada).

Quem manda nos olhos de dentro?

Será um Deus?

Um louco?

Um desenhista?

Um escritor?

Um diretor de cinema?

Será o desejo da gente?

Há quem diga que é o inconsciente.

Há quem pense que é o por acaso.

Eu não sei o que pensar.

Mando meus olhos de dentro pensarem sozinhos e lá se vão eles inventando caminhos.

Deixo o agora para trás.

Olho só para o depois.

Encontro um farol.

Sofro uma alucinação?

Tanto faz.

Faço uma poesia, então, e imagino um país.

Vejo a gente feliz num dia de sol.

Tem hora que o melhor que se pode fazer é ver as coisas com outros olhos.


Adriana Falcão

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Hoje me dei conta que não acho mais a menor graça em brincar de esconde-esconde. Nem me lembro quando foi a última vez que brinquei.

Coisa.
Será que restou algo de mim criança?